Em São Paulo, lei municipal prevê recarga de veículos elétricos em condomínios. Foto: Divulgação/Patriani.
A mobilidade elétrica chegou para ficar no Brasil. Já são mais de 100 mil carros híbridos ou elétricos em circulação no país, segundo dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). A marca foi superada em julho de 2022, com forte tendência de expansão.
Para se ter ideia, só neste ano de 2022, de janeiro a setembro,32.242 unidades de carros 100% elétricos e híbridos foram emplacadas no Brasil, de acordo com levantamento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). O número representa uma alta de 30,13% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mas o crescimento exponencial da participação dos carros elétricos no trânsito deixa uma preocupação: onde recarregar esses veículos que estão cada vez mais presentes no mercado?
É fato que a estrutura de recarga também está crescendo, mas o número ainda é relativamente pequeno. Atualmente, há cerca de 1.500 pontos de recarga públicos e semipúblicos no país, segundo estimativas de entidades e associações especializadas no mercado de veículos elétricos.
Por isso, a rede privada de recarga ganha destaque. Segundo levantamento realizado a pedido da GM do Brasil, 90% dos motoristas de carros elétricos preferem recarregar a bateria de seu carro em casa ou no escritório, aproveitando o período em que o veículo permanece estacionado.
A preferência se justifica: é sabido que há uma taxa de deterioração das baterias dos carros elétricos pelo uso constante de cargas rápidas. Um estudo, da empresa canadense Geotab, especializada no gerenciamento de frotas, revelou que o estado de saúde da bateria é afetado pela frequência com que um VE é carregado com carga rápida. O carregamento lento garante uma maior durabilidade do conjunto de baterias.
Assim, o ideal é que todo carro elétrico tenha seu próprio ponto de recarga em casa. Mas e quando a casa ou o escritório está dentro de um condomínio, com vagas de estacionamento demarcadas ou em espaço comum?
A cidade de São Paulo saiu na frente e criou uma legislação específica sobre o tema. A lei municipal número 17.336, de 30 de março de 2020, dispõe sobre a obrigatoriedade da previsão de solução para carregamento de veículos elétricos em edifícios (condomínios) residenciais e comerciais no município.
Pela regra, todo empreendimento imobiliário, residencial ou comercial, construído na capital paulista, deve ser entregue já com a solução prevista, ou seja, precisa disponibilizar a infraestrutura necessária para promover as instalações dos equipamentos de recarga, como cabeamento e disjuntores, entre outros itens.
Pela lei, a solução deve prever: modo de recarga do veículo elétrico conforme normas técnicas brasileiras; e medição individualizada e cobrança da energia consumida, conforme procedimentos vigentes das concessionárias.
Ainda de acordo com o documento, “a lei não se aplica em empreendimentos resultantes de programas habitacionais públicos ou subsidiados com recursos públicos desde que comprovada a impossibilidade técnica ou econômica”.
A medida, que entrou em vigor no ano passado (12 meses após a publicação), está sendo implementada para projetos de novas edificações, protocolados a partir da data de vigência da lei na capital paulista.
Tendência de crescimento
A lei está diretamente relacionada às novidades tecnológicas do setor automotivo e às tendências de crescimento do uso de carros elétricos. A ABNT (Associação Nacional de Normas Técnicas) publicou, neste ano, a norma ABNT NBR 17019:2022 – Instalações elétricas de baixa tensão – Requisitos para instalações em locais especiais – Alimentação de VEs (veículos elétricos).
O documento, baseado na IEC 60364-7-722:2018 e elaborado pelo Comitê Brasileiro de Eletricidade (ABNT/CB-003), determina os requisitos para a instalação elétrica fixa para o fornecimento de energia elétrica aos veículos elétricos.
O texto ainda determina que as estações de recarga para veículos elétricos destinadas ao público devem ser projetadas visando o fácil acesso ao ponto de recarga, além de estarem sinalizadas adequadamente.
Inovações na área
Outras cidades brasileiras ainda não têm legislações em vigor, mas isso não significa que os novos empreendimentos não estejam fazendo algo a respeito. É o caso da construtora Patriani.
Com sede em Santo André (SP), a empresa é pioneira em entregar seus prédios com um ponto de recarga para carro elétrico por apartamento, com medição individual.
A estrutura pronta, incluindo o carregador individualizado, facilita para os condôminos, que garantem uma unidade sem a necessidade de buscar fornecedores para instalar equipamentos de recarga.
A iniciativa também deixa o condomínio atualizado com a tecnologia e naturalmente valorizado pela praticidade do serviço.
“A transição energética já está em curso no Brasil. Podemos questionar a velocidade em que ela está ocorrendo diante da capacidade que temos de gerar energia limpa, mas ela está acontecendo. Para a Patriani, o principal é contribuir com a descarbonização e com a diversificação da matriz energética, e, paralelamente, construirmos prédios que sejam atualizados por 30, 40 anos”, diz Bruno Patriani, CEO da empresa.
Atualmente, a construtora tem 19 obras em andamento nas cidades de Campinas, São José dos Campos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Atibaia, Suzano, São Paulo e Santos, e todas contam com o ponto de recarga para carro elétrico e medição individual.
“Como os pontos de recarga já estão sendo integrados durante a construção do prédio, o custo acaba sendo diluído em todo o investimento do empreendimento. Claro que acaba encarecendo um pouco a obra, mas o valor é infinitamente menor que se tivéssemos que adaptar as vagas após o prédio pronto. Algumas pessoas perguntam se os pontos de recarga refletem em um condomínio mais caro. E a resposta é que não reflete porque o custo de toda a instalação já foi incluído no valor total da obra”, afirma o empresário, citando ainda que os condôminos não precisam passar pelo estresse da aprovação em assembleia. “Esse é o ponto. Já entregamos pronto”, diz.
Condomínios mais antigos
Em condomínios mais antigos ou em empreendimentos imobiliários em cidades sem legislações a respeito da recarga de veículos em condomínios, as instalações precisam ser realizadas por empresas especializadas.
Afinal, os projetos elétricos desses condomínios, em grande maioria, não foram previstos com sistemas de recarga de veículos elétricos.
Dessa forma, é primordial que haja uma preparação para a instalação, atentando-se aos cuidados de segurança elétrica da edificação e do veículo. Os padrões de segurança e as certificações devem ser observados no momento da compra, assim como a garantia do produto.
Além disso, um outro ponto a ser analisado e considerado, é o custo da instalação, que depende de diversos fatores, como a distância entre o quadro de alimentação do edifício e as estações de recarga, por exemplo.
Segundo Thiago Castilha, co-fundador e diretor de marketing da E-Wolf, empresa que oferece soluções de recarga residenciais e comerciais, o grande motivador das instalações é o comprador do carro elétrico. E ele deve entrar em acordo com o seu condomínio.
“Quando a gente fala em condomínio, a gente sabe que é complicado, porque o imóvel é da pessoa, mas não ela pode fazer o que quer. Para fazer a instalação do carregador, é preciso autorização da direção do condomínio, e realizar a instalação com profissionais capacitados, com tecnologia própria e ART”, afirma, citando que é preciso ter um balanceamento adequado para não causar uma eventual sobrecarga na rede.
Para Castilha, a falta de consenso entre os condôminos para a instalação de um projeto de sistema de recarga de veículos elétricos é por falta de conhecimento.
“Não faz sentido, com a tecnologia de hoje, não ter uma gestão de uma coisa tão simples. Toda linha de carregadores que a gente vende é conectável. E hoje há softwares no mercado que até personalizam com a cara do condomínio. Uma instalação como essa vai agregar valor ao condomínio, e vai ser bom para todos, até para quem não é usuário do equipamento”, diz.
Os condomínios podem propor projetos diferentes, seja para todas as vagas disponíveis no empreendimento, ou para parte das vagas, de maneira rotativa, com o sistema de gestão que individualiza a cobrança, sem ônus para os demais.
Outra empresa a atuar em empreendimentos imobiliários é a Zuuz, que tem uma estrutura modular e aérea para atender os usuários.
“Nós propomos uma solução com barramento blindado, garantindo segurança na distribuição da energia elétrica, e de forma modular, oferecendo facilidade na expansão. Isso possibilita ao condomínio acompanhar a demanda dos condôminos de acordo com o crescimento do mercado de veículos elétricos, e adicionar vagas para a recarga gradualmente”, afirma Vinício Carrara, diretor da empresa.
O sistema permite que se faça um investimento inicial baixo, mantendo flexibilidade para a expansão no futuro. Outra facilidade é que a estrutura permite a integração com carregadores de terceiros, se houver necessidade.
“Se compararmos com países da Europa ou da América do Norte, o Brasil está de 5 a 7 anos de atraso nessa tecnologia. Porém, nosso país tem essa característica de ter um crescimento muito rápido, exponencial. Então as novas tecnologias serão vistas em pouco tempo. E quem largar na frente será beneficiado”, diz.
*Colaboração de Stella Miranda
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.
2 Comments
Empresa tecnológica. Orgulho em pertencer a Família Patriani!!!
Parabéns pelas considerações, entretanto não podemos esqueceram das manutenções preditivas das estações de recarga e do quadro de proteção SAVE.