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9 de maio de 2024

Eletrificação de veículos no Brasil: oportunidade bate à porta

Imagem aérea mostra carro elétrico parado em vaga especial para recarga

Estrutura de recarga ainda é um dos desafios do Brasil para alavancar a eletromobilidade. Divulgação/Volvo.

O ano de 2022 ficou marcado na história do Brasil pela alta demanda de veículos eletrificados, compostos por carros totalmente elétricos ou híbridos. 

Foram 49.245 unidades emplacadas de janeiro a dezembro, uma alta de 41% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

O desempenho recorde das vendas do segmento no ano passado mostra que esse mercado começa a se consolidar. Segundo os dados da ABVE, a frota brasileira de veículos eletrificados, já com os dados computados de janeiro de 2023, tem 131.007 unidades, sendo 128 modelos diferentes disponíveis aos consumidores. 

Entretanto, a falta de projetos concretos para a infraestrutura de recarga e incentivos fiscais para o crescimento do setor no país ainda preocupa especialistas. 

A mesma ABVE estima que o Brasil entrou em 2023 com apenas 3 mil pontos de recarga públicos e semipúblicos distribuídos pelo país. Mesmo que as notícias do mercado mostrem inaugurações de eletropostos a cada semana, o número ainda é considerado pequeno.

Carro elétrico azul está conectado a eletroposto, com pôr do sol atrás de árvores ao fundo
Carro elétrico recebe recarga em eletroposto gratuito. FOto: Divulgação/Volvo.

Para o presidente da ABVE, Adalberto Maluf, os resultados do ano passado mostram o potencial do mercado de veículos de baixa emissão no Brasil.

“Vemos um crescimento constante e robusto das vendas de veículos elétricos e híbridos pelo quinto ano seguido, apesar de o Brasil ainda não ter um plano nacional de estímulos ao setor. O consumidor já percebe o elétrico como uma opção viável aos veículos convencionais”, afirma Maluf. 

“Agora, é preciso dar os incentivos adequados e acelerar rumo às tecnologias de baixa emissão, em sintonia com as metas de descarbonização e avanço da industrialização anunciadas pelo novo governo”, acrescentou.

Na opinião do executivo, o país passa hoje por um interesse mútuo entre a indústria, que tem o desejo de investir no transporte sustentável, e os consumidores, mais receptivos aos veículos eletrificados

Para Maluf, isso significa uma janela de oportunidades que não pode ser desperdiçada. “Temos a grande oportunidade de construir um novo parque industrial para veículos elétricos e híbridos no Brasil, incorporando as tecnologias mais modernas do mundo à tradicional competência brasileira em etanol e combustíveis de baixa emissão”, avalia.

Apoio à infraestrutura de recarga

Uma das barreiras para o avanço do mercado de veículos eletrificados no Brasil é a infraestrutura de recarga. Para Ricardo David, diretor da Elev, empresa especializada em soluções para o ecossistema dos carros elétricos, o Brasil precisa de estruturação e incentivo. 

“O investimento na infraestrutura de recarga e os incentivos fiscais são fundamentais para o crescimento do mercado de eletrificados no Brasil. Sem uma estrutura de recarga sólida, fica difícil para os motoristas optarem pelos veículos elétricos, pois eles precisam se preocupar em encontrar pontos de recarga durante suas viagens”, afirma. 

Ricardo é um homem de barba grisalha. Ele usa um blazer cinza e camisa vermelha
Ricardo David, diretor da Elev, defende que Brasil precisa de estrutura e incentivos à eletromobilidade. Foto: Divulgação

De acordo com os dados da ABVE, os veículos híbridos leves continuam sendo os mais vendidos, com 30.439 emplacamentos em 2022, o que representa 63% do total de eletrificados comercializados no período.

“Essa é uma exemplificação de como a população ainda aguarda por uma maior estruturação, principalmente quando falamos de eletropostos”, diz David. “Investimentos nessa área e incentivos fiscais são medidas fundamentais para desenvolver esse setor. A população aguarda por uma estrutura mais robusta, especialmente no que diz respeito ao número de eletropostos disponíveis”, afirma.

O diretor da Elev aponta ainda que uma política pública mais clara poderia fortalecer a criação de novos postos de trabalho. “Os incentivos fiscais são importantes para atrair as montadoras para produzir veículos elétricos no país, o que pode gerar empregos e impulsionar a economia”, afirma.

Até o ano passado, por exemplo, apenas uma grande montadora produzia veículos eletrificados no Brasil: a Toyota, em Indaiatuba (SP) e Sorocaba (SP). Para este ano, Great Wall Motors e Caoa Chery já anunciaram que devem iniciar a fabricação de eletrificados no país. 

A BYD é outra empresa que já demonstrou interesse em produzir veículos eletrificados no Brasil, mas ainda busca locais para a instalar uma nova fábrica. 

De acordo com a ABVE, o cenário para 2024 também é animador, com outras montadoras finalizando estudos para implantar linhas de produção de eletrificados no país. Para Adalberto Maluf, o Brasil deve ver um crescimento das indústrias do setor automotivo nos próximos anos. 

“Essa nova indústria gerará empregos de qualidade para os brasileiros e investirá em pesquisa e inovação. E a ABVE está pronta para colaborar com esse desafio estratégico”, afirmou o presidente da Associação.

Práticas ESG à frente da transição

Se ainda falta um direcionamento concreto por parte dos órgãos públicos em relação à eletrificação, o caminho parece mais claro por parte das empresas. 

Afinal, as multinacionais, em diferentes níveis, firmaram compromissos de descarbonização para os próximos anos, num sinal de que essas empresas buscam um futuro estável dentro de uma economia sustentável.

As chamadas práticas ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês, ou simplesmente Meio Ambiente, Social e Governança, na tradução livre) praticamente substituíram o termo sustentabilidade dos dicionários corporativos. 

O conceito, basicamente, mede o impacto que essas ações sustentáveis geram de retorno financeiro para as empresas. Assim, ao adotar essas ações, elas se posicionam perante seus consumidores com a responsabilidade de transformação que o mundo pede nos dias atuais.

Assim, na opinião de Ana Luci Grizzi, especialista em sustentabilidade, a transição energética da mobilidade para uma fonte energética limpa pode ser liderada pelas empresas, e não pelos governos

“As empresas estão sofrendo pressão de investidores, principalmente, e de reguladores. Então mesmo que aqui no Brasil a gente não tenha uma política pública, uma normativa que imponha essa mudança de matriz energética para veículos, para os elétricos, por exemplo, a gente vai ter uma demanda de investidores em relação à matriz atual dos veículos por causa de gases de efeito estufa. E esse gatilho, na minha opinião, é muito mais forte do que se eu tivesse uma norma, uma lei que impusesse essa mudança de verdade. Na prática, o investidor é mais forte que uma lei”, avalia.

Ana Luci Grizzi tem cabelos compridos e castanhos, e usa uma roupa na cor vinho
Especialista em sustentabilidade, Ana Luci Grizzi diz que a transição energética pode ser liderada por empresas. Foto: Divulgação.

A especialista diz que o Brasil tem uma condição até mais favorável que a Europa, por exemplo, para promover essa transição, uma vez que as principais fontes energéticas (hidrelétrica, solar e eólica) do país já são limpas, enquanto o Velho Continente ainda depende do carvão e do petróleo. 

“Aqui seria mais viável, porque nossa fonte está pronta. Só que na Europa, por causa da crise geopolítica, como a que acontece agora na guerra Rússia e Ucrânia, eles precisaram disponibilizar capital. E o capital apareceu para fazer essa transição para renováveis. Então eles vão trabalhar ao mesmo tempo o aumento da matriz de renováveis, porque já estão disponibilizando capital, e vão trabalhar com a troca da frota, que já é mandatória por lá e tem prazo para acontecer”, diz Ana Luci Grizzi.

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