Márcio Lima Leite, presidente da Anfavea, fala sobre os rumos da eletrificação no Brasil. Foto: Reprodução/Electric Days.
O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio Lima Leite, considera o momento atual, em que se discute a transição tecnológica do setor automotivo, como o mais desafiador da indústria brasileira em todos os tempos, e que o país pode ir do céu ao inferno dependendo da forma como conduzir o processo.
A fala aconteceu durante o evento Electric Days, realizado em São Paulo, em 26 de junho de 2023.
“Sem dúvidas, este é o momento mais desafiador da nossa história do setor automotivo, desde quando a primeira montadora se estabeleceu no Brasil”, disse Leite a um público formado por empresários e entusiastas do segmento.
“A transição tecnológica coloca limites, perspectivas de investimentos, oportunidades e riscos, com impacto em toda a cadeia de valor. Podemos ir para o céu ou para o inferno dependendo de como vamos conduzir esse processo”, avaliou.
De acordo com o executivo, o Brasil é um país eclético em sua essência, e precisa respeitar as características de mobilidade de cada região, seguindo as necessidades das pessoas de cada região, sem privilegiar uma tecnologia ou outra.
“Qual é o futuro da mobilidade? Nós temos um país eclético na essência. E a tecnologia será eclética na essência. Nós queremos produzir essa tecnologia, sem defender A, B, C ou D. Queremos todas as tecnologias. E que tenha produção local ou mesmo que estimule a produção local, de forma que se crie um ecossistema favorável à geração de emprego e renda ao país”, falou Leite, lembrando que a indústria automotiva brasileira tem cerca de 1,2 milhão de trabalhadores diretos.
Consumidor é mandatório
Ao comentar sobre a eletrificação da frota no Brasil, o executivo disse que o desafio da indústria automotiva brasileira passa primeiro pelo desejo do consumidor.
“A figura mais importante desse processo é o consumidor. Se o consumidor quiser o carro elétrico puro, ele vai ter o carro elétrico puro independente da vontade do governo, das montadoras, ou dos importadores. Ele vai ter esse carro elétrico”, afirmou.
“Nós ouvimos montadoras, nós ouvimos fabricantes, nós ouvimos o governo, mas muitas vezes esquecemos de ouvir o principal: o consumidor. E o consumidor quer.”
Para o presidente da Anfavea, o Brasil tem a responsabilidade de fortalecer a indústria. “Nosso ecossistema automotivo está pronto a produzir localmente veículos com propulsão elétrica, híbrida e a combustão, com uso de bicombustíveis, gás, diesel verde, célula combustível e outras tecnologias em fase de desenvolvimento. É hora de criarmos ambientes de inovação, investimentos em startups, investimentos na academia. Nosso desafio, nesse momento, não é manter a indústria, e sim aumentar a indústria”, completou.
Descarbonização brasileira
Márcio Lima Leite defendeu ainda que a descarbonização já é uma realidade no país, graças às políticas ambientais adotadas na mobilidade urbana há décadas. Mas que o Brasil tem vantagem na comparação com outros países.
“Nós temos uma frota de mais de 40 milhões de veículos no Brasil. E mesmo sendo uma frota envelhecida, temos o equivalente a 8 milhões de veículos elétricos rodando no Brasil em termos de descarbonização. E isso se deve ao papel do biocombustível”, alertou Leite.
“Agora, quando se fala em carros elétricos no Brasil, é diferente. O Brasil tem quase 90% de fonte de energia limpa. Então a tecnologia do elétrico no Brasil tem sim um grande benefício ambiental”, completou.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.