Furgão elétrico Citroën e-Jumpy tem foco nas operações urbanas. Foto: Divulgação/Stellantis.
A eletrificação da mobilidade no Brasil deve avançar em nichos, como os veículos comerciais e caminhões leves, responsáveis pelas entregas de última milha, e os ônibus urbanos, devido a restrições ambientais e pressões de sustentabilidade sobre as empresas. Pelo menos, essa é a conclusão do caderno “Eletromobilidade”, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), divulgado no início de fevereiro de 2023.
O documento, apresentado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), está no âmbito do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2032, e confirma a expectativa de elevação de motorizações alternativas no licenciamento de novos veículos semileves e leves em cerca de 20% para elétricos e 15% para híbridos, em 2032.
Embora reconheça que a eletrificação de veículos avança rapidamente no mundo, “atingindo participações significativas nos licenciamentos totais em alguns importantes mercados”, o estudo avalia que “a dificuldade de financiar governos devido à perda dos tributos sobre combustíveis fósseis, e o custo da infraestrutura de recarga e da rede elétrica são desafios” para o crescimento da frota no Brasil.
Motivações diferentes
O documento afirma que os países que estão à frente da transição energética da mobilidade têm motivações distintas para acelerar a eletrificação. China e Índia, por exemplo, têm “elevados índices de poluição local e alta dependência de importações de petróleo e gás natural”, segundo o estudo, que ainda afirma que os chineses buscam a liderança tecnológica.
A disputa pela liderança tecnológica e a hegemonia mundial em mais uma revolução industrial seriam as principais motivações dos Estados Unidos. Na Europa, a “dependência de importações de petróleo e gás, renovadas preocupações com a segurança energética e pressões de suas populações para agir contra o aquecimento global” pesam mais para a transição.
Já o Brasil, de acordo com o estudo, “não sofre as mesmas pressões para eletrificar rapidamente sua frota, por ser pouco dependente de importações de energia, não disputar a liderança tecnológica, biocombustíveis serem disseminados, não ter a mesma demanda emergencial por redução da poluição local, e pela dificuldade de arcar com os subsídios necessários para estimular a eletrificação no curto prazo perante a necessidade de promover o crescimento e a distribuição de renda”.
Demanda por baterias
O caderno pontua que o desequilíbrio entre oferta e demanda de materiais e de baterias se refletem nos preços dos veículos, dificultando a adoção maciça dos elétricos. Ao mesmo tempo, a aceleração nas vendas faz aumentar a demanda por baterias, o que evidencia problemas como escassez de oferta de minerais e riscos geopolíticos associados à sua exploração.
Assim, mesmo considerando possíveis aumentos de oferta futura, “para os cenários mais otimistas de adoção de veículos elétricos, pode não haver capacidade suficiente de produção de baterias”, diz o estudo.
Projeção para o futuro
O caderno “Eletromobilidade”, do Plano Decenal de Expansão de Energia 2032, da Empresa de Pesquisa Energética (PBE) ressalta que as projeções de eventos futuros publicadas no documento refletem a visão do Ministério de Minas e Energia e do PBE, mas que os dados, as análises e as informações contidas na publicação não são garantia de realizações e acontecimentos futuros. O documento completo pode ser acessado aqui.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.