Thiago Hipólito, diretor de inovação e do DriverLAB da 99. Foto: Divulgação
O aplicativo de mobilidade urbana 99 App está empenhado em reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. Para que isso aconteça, é necessário investir na eletrificação da frota. Pelo menos, essa é a opinião de Thiago Hipólito, diretor de inovação e do DriverLAB da 99.
O DriverLAB, centro de inovação da companhia, tem previsão de investimentos de R$ 100 milhões em 2022, e de até R$ 250 milhões nos próximos três anos para criar e desenvolver soluções de tecnologia para os motoristas parceiros.
Dentre essas ações, está a Aliança pela Mobilidade Sustentável, iniciativa da empresa em conjunto com parceiros, para transformar a mobilidade urbana, colocando mais veículos elétricos nas ruas, substituindo gradualmente os movidos a combustão. Por isso, na primeira quinzena de julho de 2022, a 99 e a BYD anunciaram a chegada do D1 EV, veículo da montadora chinesa desenvolvido para o mercado de transporte de passageiros, que já está em testes em São Paulo.
Para Thiago Hipólito, a eletrificação dos veículos é o caminho a ser seguido no mundo todo. Em entrevista exclusiva ao Canal VE, o executivo afirmou que o mercado de elétricos terá grande participação dos motoristas de aplicativos de transporte nos próximos anos.
Confira a entrevista:
Canal VE: Por que pensa que os mercados de veículos elétricos será puxado por carros de alto padrão e, na sequência, por motoristas de aplicativos de transporte?
Resposta: Já vemos um movimento da indústria automobilística a caminho da eletrificação do seu portfólio, mas ainda com produtos de alto padrão. No entanto, a demanda por essa tecnologia já é uma realidade em todas as camadas da sociedade.
Os veículos elétricos possuem menos impacto ambiental, preservam a saúde das pessoas e, também, reduzem custos com combustível em até 80%, mas ainda são muito mais caros do que os convencionais. Construímos a Aliança pela Mobilidade Sustentável, lançada em abril deste ano, sob a liderança da 99 juntamente com outras empresas do segmento: CAOA Chery, Ipiranga, Movida, Raízen, Tupinambá Energia, Unidas e Zletric, para deixar esses modelos mais acessíveis para os motoristas parceiros da 99 e para as pessoas que mais precisam deles. Além disso, a 99 é uma empresa de tecnologia voltada à mobilidade urbana, que conecta pessoas e possui uma capilaridade robusta no Brasil. Operamos em 1.600 cidades, temos em nossa plataforma 20 milhões de usuários ativos e 750 mil motoristas parceiros cadastrados. Essa escalabilidade oferece condições para negociar financiamentos e melhores custos de produção.
E, para além das ambições da Aliança pela Mobilidade Sustentável, este foi um movimento que a China seguiu. Lá, um mercado já mais maduro quando o assunto é veículos elétricos, a adoção começou por meio do transporte por aplicativo. Então, é este case que levamos como aprendizado e estamos traduzindo para a realidade brasileira. Outro ponto importante: a adoção pelo mercado de veículos usados no transporte por aplicativo habilitou e reforçou, em um segundo momento, a adoção para passageiros comuns.
Qual é o impacto que o uso de veículos elétricos na modalidade de transporte individual de passageiros pode gerar nos custos do serviço de transporte e nas viagens desses passageiros?
Há pesquisas que apontam que podemos reduzir entre 70% a 80% os custos operacionais do motorista parceiros, uma vez que o gasto do consumo da energia elétrica é significativamente inferior ao dos combustíveis fósseis e etanol, além do carro ser mais eficiente. A manutenção dos veículos elétricos também costuma ser menor do que a do veículo a combustão. Ou seja, isso trará mais economia aos nossos parceiros.
Para incentivar o fortalecimento dessa mobilidade elétrica criamos a Aliança pela Mobilidade Sustentável reunindo empresas diversas do setor automotivo, que vai atuar para entregar a infraestrutura necessária e oferecer maior acessibilidade a veículos de matriz energética limpa para os motoristas parceiros. Por esse motivo, buscamos a conexão com montadoras, empresas para carregamento dos VEs, financiadores, companhias da cadeia de suprimentos e outros.
Na 99, diante da nossa expertise, sabemos que nenhum player isolado é capaz de promover as mudanças necessárias sozinho, por isso a Aliança pela Mobilidade Sustentável propõe a integração de diversas marcas em uma grande rede com vista para o futuro do país.
Considerando que o veículo elétrico é mais econômico que o de combustão, em quanto tempo o senhor acredita que os motoristas de aplicativos terão o retorno financeiro do investimento em um VE?
Não estamos necessariamente trabalhando com essa conta. Nosso objetivo é fortalecer esse movimento pela mobilidade sustentável para oferecer acesso aos motoristas parceiros. A popularização dos veículos elétricos passa, necessariamente, pela redução dos custos. Por isso, estamos buscando engajamento com parceiros da indústria. A ideia é unir a indústria — incluindo setores de abastecimento, manufatura, locação e transporte por aplicativo — para combinar especialidades de diferentes mercados e alavancar o desenvolvimento de todo o ecossistema. Por exemplo, assim como os motoristas de aplicativo dependem das montadoras e locadoras para conseguir veículos, os automóveis dependem de combustível. É um ciclo.
Por isso, ao criar o DriverLAB, centro de inovação 100% focado nos motoristas parceiros da 99, que tem investimento previsto de R$ 250 milhões nos próximos 3 anos, sendo R$ 100 milhões somente em 2022, colocamos a Aliança sob este “guarda-chuva”, para incentivar a demanda por carros elétricos e negociar melhores margens de custos de produção. Somos capazes de girar toda a indústria e favorecer o consumidor, seja ele condutor de app ou não.
Que benefícios o uso de energia limpa no transporte individual de passageiros pode impactar no meio ambiente das grandes cidades?
A qualidade de vida das pessoas, principalmente nas grandes cidades, é diretamente impactada pelo trânsito, pela emissão de CO2 dos veículos. Atualmente, 48% das emissões de CO2 são provenientes do setor de transporte no Brasil, fator que tende a zerar se todos os veículos forem elétricos. Com a Aliança, queremos buscar um futuro mais sustentável para a mobilidade urbana, e fazer coro com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, dentre os quais o uso de energia limpa é uma meta a ser alcançada. Ou seja, queremos melhoria da saúde pública, com redução da poluição gerada pelo trânsito, custo mais barato para a atividade de motorista e um transporte mais acessível para todos.
Existe algum incentivo ou investimento da 99 para ampliar a frota de veículos elétricos do aplicativo nos próximos anos?
Apostamos na união e na parceria estabelecida pela Aliança pela Mobilidade Sustentável como ferramenta para transformação a médio e longo prazos. Neste estágio incipiente do desenvolvimento da indústria de VEs no Brasil, será necessária uma grande quantidade de capital para construir uma capacidade de produção, infraestrutura e incentivos financeiros para impulsionar a adoção. Trabalharemos com fundos de investimento verde, governo e entidades privadas para trazer capital inicial para catalisar a adoção de uma frota eletrificada no Brasil.
Além do coinvestimento para chegarmos às metas estabelecidas — colaborando na instalação de pontos de abastecimento para formar a infraestrutura, por exemplo —, cada empresa é um ator capaz de investir na aliança como um todo. Com investimentos cruzados na iniciativa, e dentro da área de expertise de cada companhia, seremos capazes de impulsionar a demanda pelos EVs no país. A ideia é unir a indústria — incluindo setores de abastecimento, manufatura, locação e transporte por aplicativo — para combinar especialidades de diferentes mercados e alavancar o desenvolvimento de todo o ecossistema.
Quais desafios precisam ser superados no Brasil para a ampliação da frota de VEs? Maior autonomia dos veículos? Mais postos de recarga? Menos tributos?
Nesta Aliança buscamos uma rede de cobertura que vá atender os usuários. Este mapeamento está sendo realizado, e podemos afirmar que há interesse dos players do mercado em atender o consumidor. Acreditamos, portanto, que a infraestrutura de abastecimento vai crescer ao mesmo tempo em que houver um aumento das vendas de carros elétricos. A Aliança criada neste momento virá alavancar esse crescimento engajando todos os players.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.