Painel indica recarga em andamento. Foto: Rubens Morelli/Canal VE.
É melhor carregar a bateria de Íons de Lítio a 100% ou a 80%? Descarregar completamente ou recarregar mesmo com um pouco de carga? Para quem deseja conservar a eficiência da bateria do seu veículo elétrico (VE) pelo maior período possível, conhecer a resposta destas duas perguntas é essencial.
Você já deve ter lido, assistido em algum lugar, ouvido de algum amigo, que é recomendável utilizar seu veículo elétrico, sempre que possível, com carga de bateria entre 20% e 80%. Mas você realmente entendeu o por quê?
Vamos lá! Isto pode ser explicado entendendo a composição química dos materiais que
compõem o Cátodo e o Ânodo da maioria das baterias dos VEs em circulação.Mas, atenção: antes de seguirmos é importante lembrar! A energia responsável por fazer funcionar o motor elétrico (ou motores) do seu VE é fornecida pelos Íons de Lítio que partem do eletrodo negativo da bateria, o Ânodo. À medida em que você vai utilizando esta energia para movimentar o veículo, por exemplo, esses Íons vão se acumulando no eletrodo positivo, o Cátodo. Quando acontece o retorno desses Íons para o Ânodo para serem novamente utilizados? Durante o recarregamento.
Entendendo a composição química
Pois bem, agora vamos entender melhor a composição química dos materiais que compõem esses “locais de partida e chegada” desses Íons de Lítio.
O Cátodo da maioria das baterias dos VEs em circulação tem sua estrutura composta, geralmente, por Óxidos metálicos mistos (Níquel, Cobalto, Manganês, etc), que possuem uma geometria estrutural tridimensional. O que isso significa?
Qual o problema em utilizar seu VE com carga abaixo de 20%, ou seja, quando você concentra a maioria dos Íons de Lítio na estrutura do Cátodo, que tem essa geometria tridimensional? O “problema” é que esta tridimensionalidade estrutural tem a característica de “segurar” mais os Íons, dificultando — e, com o passar do tempo, impedindo — o retorno “natural” deles durante o carregamento, prejudicando assim a eficiência e a vida útil da bateria, já que, ao passar do tempo, você terá a cada recarga um número menor de íons disponíveis.
Já quando usamos o veículo com carga acima de 80%, ou seja, tendo a maioria dos Íons de Lítio presentes na estrutura do Ânodo, o cenário muda. Isso porque a geometria estrutural do Ânodo é bem mais “amigável” em relação à do Cátodo, por assim dizer.
Ela é formada — na sua grande maioria — por Grafite ou Grafeno, que tem uma geometria estrutural “lamelar” — em forma de lâminas —, o que facilita o retorno desses Íons para o Cátodo com menor resistência, já que o espaço existente entre as “lâminas” da estrutura facilita (ou dificulta menos) o retorno deles para o Cátodo.
Melhor cenário
Portanto, sempre que possível, não utilize seu VE com cargas abaixo de 20%. Esse hábito contribui, e muito, para a perda de eficiência e vida útil da bateria do seu VE. A ressalva também serve para carregamento rotineiro de 100% da bateria. Como toda bateria tem uma quantidade “natural” de ciclos de carga/descarga, carregar integralmente de forma rotineira sua bateria pode abreviar esse ciclo de vida natural.
Bateria é eletricidade, mas, acima de tudo, química.
Especialista em mobilidade elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com foco na produção de materiais, conteúdos, treinamentos e capacitação de profissionais para eletromobilidade.