Hub de recarga da Go Electric, na Rodovia Anhanguera, em Santa Rita do Passa Quatro (SP). Foto: Rubens Morelli/Canal VE.
O Brasil registrou, de janeiro a setembro de 2023, 57.522 emplacamentos de veículos eletrificados, que compreendem automóveis e comerciais leves híbridos convencionais (HEV), híbridos plug-in (PHEV) e totalmente elétricos (BEV). Os números, divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), já são maiores que os resultados registrados em todo o ano de 2022.
Além disso, 2023 também está sendo importante para a consolidação da participação no mercado de veículos carregáveis (PHEV e BEV), ou seja, que dependem de uma fonte externa de energia para recarregar as baterias.
No acumulado do ano, os carros híbridos convencionais, abastecidos apenas com combustíveis, ainda detêm a maior quantidade de emplacamentos, mas a diferença para os veículos plug-in diminuiu consideravelmente, praticamente um empate técnico entre as tecnologias da eletrificação, o que demonstra uma mudança no perfil de participação do mercado brasileiro.
Consequentemente, o maior interesse dos consumidores por esses automóveis também abre novas oportunidades para empresas dispostas a investir na infraestrutura de recarga.
Um levantamento do grupo de infraestrutura da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) indicava que até agosto de 2023 havia 3,8 mil eletropostos públicos e semipúblicos no Brasil, um aumento de 28% em relação a dezembro de 2022 (2,9 mil unidades).
Com os números atuais, a entidade estima que há uma estação de recarga pública ou semipública para cada 15 veículos 100% elétricos ou híbridos plug-in no Brasil, não tão distante das recomendações internacionais, de uma estação para cada dez veículos carregáveis.
Regionalização da eletrificação
Apesar dos números, ainda há uma forte regionalização dos eletropostos espalhados pelo Brasil, com as regiões Sudeste e Sul dominando a preferência das instalações, o que acaba inviabilizando — ou pelo menos dificultando — a comercialização de novos veículos em outras partes do país.
Neste sentido, a Volvo tem liderado uma estratégia de implementação de infraestrutura de recarga rápida para veículos elétricos no Brasil. A empresa inaugurou, no início de setembro, o maior hub de recarga de veículos elétricos da América Latina, com capacidade para carregar até 80 carros simultaneamente, no São Paulo Corporate Towers, onde fica o novo escritório da companhia na capital paulista.
Além disso, anunciou investimentos de R$ 50 milhões para expandir e fortalecer a rede de infraestrutura de recarga no Brasil, em mais 73 cidades. Com o novo pacote, a empresa totaliza mais de R$ 70 milhões em investimentos para a instalação de 101 eletropostos, em todas as regiões do país.
Para isso, a Volvo criou até mesmo um hotsite para atrair parceiros de todas as regiões do Brasil para estimular a instalação de pontos de recarga rápida em diferentes estabelecimentos.
“Teremos quase 10.000 quilômetros de rodovias cobertos pelos eletropostos da Volvo Car Brasil. É um dos maiores investimentos que uma marca faz em infraestrutura de eletrificação em nosso país”, afirma Marcelo Godoy, diretor de finanças Volvo Cars América Latina e de Operação de Infraestrutura de Carregamento Brasil.
“Estamos expandindo e colocando mais opções para os proprietários de veículos eletrificados fazerem viagens intermunicipais e até mesmo interestaduais. O que antes era um grande gargalo para os proprietários de carros elétricos, a Volvo está transformando em solução”, reforça, lembrando que os eletropostos podem ser utilizados por proprietários de veículos elétricos e híbridos plug-in, gratuitamente, independentemente da marca do veículo.
Concorrência diferente
Até o primeiro semestre de 2023, a Volvo detinha o maior volume de vendas de carros 100% elétricos no Brasil, enquanto a Toyota ocupava a primeira posição entre os carros híbridos. No entanto, as estratégias arrojadas das marcas chinesas, em especial BYD e GWM, já têm feito barulho no país.
“O brasileiro realmente quer ter uma experiência em eletrificação. O Brasil é uma prioridade de mercado muito forte para a GWM, a gente consegue atender essa demanda em volume e mix que desejarem. Então aplicamos as mesmas estratégias para nossos carros: preço justo de mercado para um produto de qualidade, controlando o volume de importação conforme a demanda. E se houver escala de pedidos, poderemos trazer a produção para cá e ampliar ainda mais nossa participação nesse mercado”, diz Oswaldo Ramos, chefe de operações comerciais da GWM.
O pensamento é semelhante na BYD. “A estratégia da companhia é trazer um produto de qualidade por um preço competitivo. Não é caro, não é barato, é competitivo. A gente entende que a gente tem de oferecer um produto de alto nível nesse preço. E aí a concorrência vai se mexer pra continuar vendendo”, afirma Henrique Antunes, diretor de vendas da BYD.
E se engana quem pensa que as marcas chinesas estão competindo entre si. Ambas estão de olho nos consumidores dos carros a combustão que buscam mais eficiência na mobilidade. Para isso, tentam superar um desafio cultural, como diz Antunes.
“Tudo que é desconhecido gera medo. Se você vai entrar no mar e não sabe se é fundo ou raso, vai ficar com medo. É a mesma coisa com o carro elétrico. As pessoas não conhecem o carro elétrico, não conhecem o carregador, não sabem como funciona, então ficam com medo. O nosso maior desafio como companhia, como empresa, como marca, é acabar com o desconhecimento, é falar sobre os carros elétricos como conceito. O que é, como funciona, como eu carrego, como eu não tomo choque, enfim. A gente está muito focado em trazer essa cultura para o brasileiro conhecer”, completa.
Movimento do mercado
O integrador Douglas Hiroshi, CEO da TaiyoSol Black Energia Solar, de Dourados (MS), enxergou na eletrificação da frota de veículos no Brasil uma nova oportunidade de ampliar a oferta de produtos e serviços de sua empresa.
“Eu percebi o crescimento na procura de veículos elétricos na minha cidade e comecei a divulgar o trabalho de instalação e venda de carregadores veiculares. Desde então, passei a oferecer a instalação desses equipamentos em contratos de sistemas de energia solar para algumas empresas da região, como hotéis, academias e universidades, entre outros, e a proposta tem sido o diferencial para o fechamento dos contratos”, fala Hiroshi.
“Além de garantir a venda, ajudo esses estabelecimentos a cumprirem as próprias metas de sustentabilidade com o atrativo para novos clientes que buscam recargas pontuais. Todo mundo ganha”, afirma o integrador.
Hiroshi diz ainda que desde que passou a atuar na instalação de carregadores veiculares, a empresa tem conquistado novas parcerias na região. “Está valendo a pena porque a gente tem sido reconhecido pelo trabalho de instalação dos carregadores, o que ampliou a nossa oferta. A eletrificação da frota vai crescer muito mais aqui no Brasil ainda, e quem trabalha com energia solar e não investir nesse mercado vai ficar para trás da concorrência”, avalia.
Recarga como serviço
Outro empresário a apostar no crescimento da eletrificação da frota, Danilo Guastapaglia, CEO da Go Electric, fala com orgulho do hub com dez estações de recarga ultrarrápida para veículos elétricos inaugurado em agosto de 2023, na Rodovia Anhanguera, km 236, em Santa Rita do Passa Quatro (SP).
“A eletromobilidade é um processo de transição inexorável. A transição energética na indústria automotiva é uma realidade. Temos já um crescimento exponencial na comercialização de veículos elétricos, principalmente nos grandes centros, como capitais e grandes cidades, e, obviamente, a necessidade de circulação desses veículos em trajetos de longas distâncias torna importante a implantação de toda uma infraestrutura para atender toda essa demanda que está por vir”, afirma.
O hub da Go Electric na Rodovia Anhanguera tem três plataformas, com módulos fotovoltaicos no topo para geração de energia solar, e potência total de 524 kW.
“As principais rodovias do Estado de São Paulo são prioritárias, já que a maior quantidade de veículos elétricos em circulação está no em São Paulo, mas acredito que num futuro próximo esse tipo de infraestrutura estará disponível em todas as regiões do país.”
Guastapaglia defende que a recarga dos veículos elétricos deve ser encarada como o reabastecimento de veículos a combustão. “Infraestruturas de recarga como essa têm um valor de investimento importante. Nós acreditamos que um dos tripés necessários para que a infraestrutura de eletromobilidade venha com força no país é justamente o retorno econômico. A recarga tem um custo operacional, já que ela demanda energia, e isso, obviamente, deve ser pago”, completa o empresário.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.