Projeto da Norte Energia e da UFPA planeja reduzir significativamente as emissões de poluentes no Rio Xingu. Foto: Divulgação/Norte Energia)
A região do Rio Xingu está recebendo testes de duas voadeiras elétricas para transporte de pessoas. As voadeiras são embarcações bastante comuns na região, utilizadas há décadas para deslocamentos de famílias e pescadores na região Amazônica, e agora contam com um motor elétrico para a propulsão.
O projeto é uma iniciativa da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e está em fase final de teste.
São duas embarcações da Norte Energia, batizadas de Poraquê I e II, em alusão ao peixe elétrico. Uma tem oito metros de comprimento e capacidade para transportar até seis pessoas, e outra de 10 metros para conduzir até oito pessoas.
O objetivo é contribuir para a descarbonização do Xingu, a partir do desenvolvimento de baterias nacionais para propulsão elétrica, e substituir combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel, por fonte de energia limpa.
Com a iniciativa, ao final de um mês, a estimativa é que tenham deixado de ser consumidos cerca de 1.400 litros de combustíveis fósseis.
Transporte de funcionários
As embarcações ainda estão em fase de testes e, a princípio, serão utilizadas apenas para o transporte de funcionários da Norte Energia. O Poraquê I é o protótipo que se encontra em fase final de testes, enquanto o Poraquê II, mais pesado e com maior capacidade de carga, está em fase final de testes do motor.
“Estamos satisfeitos de ver, na prática, o resultado de um projeto inovador para a região Amazônica a partir de uma fonte limpa e renovável, assim como é a energia produzida por Belo Monte. Estamos às vésperas da COP 30 e o nosso objetivo é deixar esse projeto como herança. Ele tem capacidade para revolucionar o transporte aquaviário de pequeno porte na região, com índices infinitamente menores de emissão de gases poluentes”, avalia o presidente da Norte Energia, Paulo Roberto Pinto.
Para o projeto, a empresa investiu R$ 550 mil nos protótipos, incluindo estudos especializados em conjunto com a UFPA, a aquisição dos equipamentos chineses, um conjunto de baterias de fornecedores nacionais e o desenvolvimento de projeto e construção dos cascos das embarcações.
Características da voadeira e recarga
As voadeiras são movidas por um conjunto de dois motores, que, combinados, garantem uma potência de 40,4 cv. Cada protótipo utiliza um conjunto que varia de três a quatro baterias, o que, de acordo com os primeiros testes, pode garantir uma autonomia de até 40 km.
O principal objeto de estudo do projeto atualmente é conciliar maior autonomia de viagem com baterias menores, mais leves e com menos tempo de recarga. Isso porque cada conjunto pesa em torno de 60 kg, o que ainda é considerado alto para uma voadeira, que é classificada como uma pequena embarcação.
“Nesse primeiro momento estamos usando baterias adquiridas no mercado chinês, porém, a Norte Energia decidiu que a tecnologia utilizada precisa ser nacional. Assim, já negociamos com empresa local para o fornecimento de baterias 100% nacionais e a próxima etapa é testá-las, no âmbito do projeto, quanto à eficiência e à autonomia. Esta voadeira elétrica é um marco para o transporte da região e continuaremos trabalhando para aperfeiçoar com tecnologia brasileira”, explica José Hilário Farina Portes, consultor de Assuntos Socioambientais da Norte Energia.
Com relação à recarga, ela será feita em dois pontos, um no Porto dos Areeiros, em Altamira (PA), e o outro junto ao Sistema de Transposição de Embarcações (STE), em Pimental (PA). O tempo para carregar está estimado entre duas e três horas e a energia será fornecida pela Usina Fotovoltaica de Altamira.
Impactos futuros
Apesar de ser um projeto para uso privado, ele pode render bons frutos para o sistema de transporte nos rios espalhados pelo Brasil, não só na região Norte.
De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o país possui aproximadamente 63 mil quilômetros de trechos navegáveis dos rios, sendo 70% para o uso de transporte de pessoas, e o restante é de uso comercial, como transporte de cargas.
Com base nisso e em todo o ecossistema elétrico, a economia não fica apenas na parte financeira, mas também na baixa emissão de poluentes nos rios brasileiros.
Graduando em Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, possui experiência na criação de conteúdo para sites, blogs e redes sociais. Acompanha o mercado de veículos elétricos para o Canal VE.