Chuveiro elétrico pode ter custo alto para a conta. Foto: Divulgação
Você sabia que um veículo elétrico pode consumir menos energia que o chuveiro de sua casa? Pois é. Dependendo da forma de uso do eletrodoméstico e do VE, é possível que os banhos diários tenham um custo maior do que rodar com o carro pela cidade.
Quando se fala em veículos elétricos, muitas dúvidas aparecem, em especial sobre o consumo de energia. Já explicamos como calcular o consumo de um VE na comparação com um carro a combustão. Mas e em relação a outros aparelhos elétricos e eletrônicos?
Nós fizemos as contas e concluímos que o custo de energia elétrica de um VE pode ser incorporado à planilha de gastos da família brasileira, sem dificuldades.
Fazendo as contas
Para entender o cálculo, é preciso explicar o conceito do consumo de energia elétrica.
O consumo de qualquer aparelho pode ser calculado pelo produto entre a potência (medido em kW) e o tempo (hora) em que esse equipamento permanece ligado à rede elétrica.
A fórmula usada para calcular a energia elétrica é: Energia = Potência x Tempo. O resultado é expresso em kWh.
Considerando como exemplo uma família com quatro pessoas, e cada uma delas tomando banho por 15 minutos, todos os dias, durante um mês, em um chuveiro com potência de 5.500 W, temos:
Energia elétrica = 5,5 kW x (1 hora x 30 dias)
Energia elétrica = 5,5 x 30
Energia elétrica = 165 kWh consumidos no mês.
Após reajuste da tarifa da energia elétrica em 2022, feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o preço por kWh no Estado de São Paulo é de R$ 1,04 para a tarifa residencial (B1). Assim, a família desembolsa R$ 171,60 com a conta de energia.
Carro elétrico mais barato
Para medir o consumo de um veículo elétrico, é preciso estar atento, principalmente, à autonomia e à capacidade de armazenamento da bateria. Diversos fatores também influenciam no cálculo, como o peso total do conjunto, sistema de freios regenerativos, ar-condicionado, temperatura ambiente e equipamento e tipo de recarga, entre outros, mas, para manter o artigo de forma didática, não consideramos essas variáveis.
O carro elétrico mais barato do Brasil, em agosto de 2022, é o iCar, da Caoa Chery, vendido a R$ 144.990. A fabricante anuncia autonomia de 282 quilômetros para o veículo, que tem bateria com capacidade de 30,4 kWh.
Segundo a montadora, o iCar consome 10,78 kWh a cada 100 quilômetros rodados. Tendo como base que a família utiliza o veículo para percorrer, em média, 1.200 km por mês (ou 40 km por dia), o consumo desse carro no período será de 129,3 kWh, menos que o consumo daquele chuveiro. Com a tarifa a R$ 1,04, o custo será de R$ 134,47 para abastecer o veículo em casa.
Carro elétrico mais vendido
De acordo com dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), o carro 100% elétrico mais vendido no Brasil no primeiro quadrimestre de 2022 foi o Volvo XC40 Recharge. A versão de entrada, denominada P6, é vendida a R$ 309.950.
De acordo com os dados da montadora, a bateria do veículo tem capacidade de 69 kWh, e entrega uma autonomia de 420 quilômetros. Para rodar 100 quilômetros, o XC40 Recharge P6 consome 16,42 kWh. Considerando que o modelo percorre 1.200 quilômetros em um mês, o consumo energético é de 197,14 kWh (R$ 205,02).
Voltando àquela família de quatro pessoas, em que cada uma toma banho de 15 minutos por dia, mas agora considerando um chuveiro de 7.500 W de potência, o consumo de energia elétrica do eletrodoméstico será de 225 kWh (R$ 234,00), mais que o utilitário esportivo.
Conclusão
O Brasil é um dos países com maior potencial de geração energética do mundo, com destaque para energias renováveis, como a hidrelétrica, a eólica e a solar.
Os preços de veículos elétricos praticados por aqui ainda não estão de acordo com o poder aquisitivo da maior parte das famílias brasileiras. Mas o consumo de energia elétrica pelos veículos elétricos não é, nem de longe, o maior vilão para destravar a descarbonização da mobilidade urbana no país.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.
4 Comments
Adorei! Ótima matéria!
A mobilidade elétrica, no Brasil, é um caminho sem volta, sendo o seu maior gargalo as baterias, caras e pouco eficientes, mas com o avanço das baterias de estado sólido esse obstáculo será superado em breve, somados as novas gerações de motores mais eficientes.
Obs. Já temos hoje, motores elétricos rodando 10 Km com um KWh.
Parabéns pela analogia comparativa, sem considerar a energia FV que faria o custo de abastecimento bem próximo do zero.
Se a família possuir uma mini usina fotovoltaica, essa despesa será muito mais baixa. Lembrando que, uma usina dessas custa menos de 20k hj pra atender uma família de 4 membros!