A Bandeira Nacional hasteada em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
A menos de uma semana das eleições de 2022, os candidatos à presidência do Brasil tentam convencer os eleitores com suas propostas. Mas, quando o assunto é mobilidade elétrica no Brasil, ainda há um longo caminho a percorrer.
Essa é uma pauta pouco trabalhada pelos presidenciáveis, o que, segundo especialistas do setor, pode deixar o Brasil em situação desfavorável no cenário internacional em relação à transição energética.
O país tem ampla possibilidade de assumir um papel de destaque no que tange às oportunidades de desenvolvimento no setor energético.
Segundo recente relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), o Brasil saltou da sétima para a sexta colocação na criação de postos de trabalho na geração e distribuição de energia solar, ficando à frente de líderes históricos do setor, como Alemanha, Austrália e o Reino Unido.
Mas a falta de um plano elaborado sobre a transição energética da mobilidade, sem o real aproveitamento do potencial das energias renováveis, pode trazer sérios prejuízos ao país.
Confira a seguir as propostas sobre a mobilidade elétrica dos principais candidatos à presidência, de acordo com as recentes pesquisas de intenção de voto.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabelece, em seu plano de governo, “diretrizes para construção coletiva” do que classifica como programa de reconstrução e transformação do Brasil. O candidato do Partido dos Trabalhadores, no entanto, já disse em entrevistas que o documento de 21 páginas apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no registro da candidatura não é a versão final.
Embora não trate especificamente sobre a mobilidade elétrica, o documento informa o compromisso do candidato com a sustentabilidade social, ambiental, econômica e com o enfrentamento das mudanças climáticas. “Somaremos esforços na construção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis e no avanço da transição ecológica e energética para garantir o futuro do planeta, apoiando o surgimento de uma economia verde inclusiva, baseada na conservação, na restauração e no uso sustentável da biodiversidade de todos os biomas brasileiros”, diz a carta.
“É preciso garantir a modernização e a ampliação da infraestrutura de logística de transporte, social e urbana, com um vigoroso programa de investimentos públicos. Vamos assegurar a imediata retomada do investimento em infraestrutura, fundamental para a volta do crescimento e decisivo para reduzir os custos de produção”, afirma o documento, sem, no entanto, apontar a solução para alcançar esse objetivo.
Jair Bolsonaro (PL)
Atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro destaca, em seu plano de governo, a sustentabilidade ambiental, tratando o assunto como “de alta relevância” para todos os países do mundo. O plano de governo informa: “tem como propósito central promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, com foco na qualidade ambiental como um dos aspectos fundamentais da qualidade de vida das pessoas, conciliando a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e social”.
De acordo com o documento, o Brasil pode vir a se tornar um “país verde desenvolvido”, se a questão ambiental for fortalecida.
“Deverão ser contempladas tecnologias que gerem combustíveis limpos, como é o caso do hidrogênio verde, que o Brasil tem enorme capacidade de produção, e veículos elétricos e híbridos, dentre outras, para diminuição da pegada de carbono nacional, além de propiciar soluções regionais específicas e adequadas que visem ao desenvolvimento sustentável”, diz o plano de governo.
Ciro Gomes (PDT)
Em seu Plano Nacional de Desenvolvimento, o candidato Ciro Gomes diz que é preciso “reduzir o desmatamento, a emissão de gases danosos à atmosfera e viabilizar o crescimento econômico sustentável, sempre de forma soberana em relação aos demais países”.
No entanto, dentro da estratégia de estimular a retomada do setor produtivo, o programa de governo dá ênfase a quatro complexos industriais, entre eles o de petróleo, gás natural e derivados. Ciro ainda promete desenvolver “várias formas de energia limpa” no país, como solar, eólica (on-shore e off-shore) e baseada na produção de hidrogênio verde, mas sem tocar na pauta da mobilidade elétrica.
Simone Tebet (MDB)
A candidata Simone Tebet (MDB) apresenta seu plano de governo afirmando que tem um compromisso com o Brasil e os brasileiros. Por isso, diz que o país precisa de uma “verdadeira reconstrução, ampla e abrangente”.
A senadora dedica um dos eixos da campanha à economia verde e o desenvolvimento sustentável, ao afirmar que toda a agenda da sustentabilidade estará presente nas ações e políticas do eventual governo.
“O Brasil que queremos vai acelerar a transição para uma matriz ainda mais limpa, renovável, segura, barata e eficiente de energia de baixo carbono, em particular aplicada ao transporte público integrado nos grandes centros urbanos”, informa o documento. A candidata diz apoiar a melhoria da mobilidade nas cidades e regiões metropolitanas, reduzindo as emissões e incentivando opções mais limpas.
Felipe D’Ávila (Novo)
O empresário e cientista político Luiz Felipe D’Ávila tem como primeira meta de seu plano de governo o Brasil Carbono Zero. A candidatura entende que a necessidade da redução das emissões de carbono é um consenso no mundo todo, e que “o Brasil tem condições de ser o líder global desse processo e gerar muitos recursos a partir dele.
“Temos que diversificar os meios e as alternativas de transporte para diminuir drasticamente as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. No transporte de cargas, vamos investir na utilização de ferrovias, hidrovias e dutovias, modais extremamente eficientes e adequados à nova economia de baixo carbono. Nas cidades, apoiar os estados e municípios com recursos e tecnologia para impulsionar políticas inovadoras de mobilidade urbana, com foco no transporte público”, diz o documento, sem especificar a mobilidade elétrica como um diferencial para atingir esse objetivo.
Soraya Thronicke (União Brasil)
A candidata Soraya Thronicke defende, em seu plano de governo, que o Brasil aumente sua produtividade e competitividade internacional. Para isso, segundo a carta, é necessário investimento em pesquisa e inovação tecnológica.
A senadora, que tem formação em Direito, avalia que é preciso elaborar um projeto de gestão energética no país, priorizando a geração de energia limpa, por meio de políticas públicas, voltadas para energias renováveis, e que viabilizem a criação de uma economia de baixo carbono eficiente. No entanto, o documento não cita a transição energética da mobilidade no Brasil.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.