Instalação de carregadores veiculares requer cuidados especiais. Foto: Divulgação/Envato.
O Brasil deve fechar 2024 com mais de 160 mil veículos eletrificados emplacados no ano, superando a previsão da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). O crescimento nas vendas é tão grande que em julho o Brasil já tinha superado o total de vendas de 2023 (93,9 mil unidades).
É importante destacar que as vendas dos veículos eletrificados são contabilizadas com modelos 100% elétricos (BEV), híbridos plug-in (PHEV) e híbridos convencionais (HEV), sendo este último tipo abastecido apenas com combustíveis, sem a necessidade de recarga. No entanto, desde dezembro de 2023, a maioria das vendas de eletrificados no Brasil é de veículos plugáveis, ou seja, aqueles que necessitam de fonte externa de energia elétrica (BEV e PHEV).
Com mais carros eletrificados nas ruas, a demanda por estações de recarga também aumenta, especialmente nas residências. A instalação elétrica correta dos carregadores não é apenas uma questão de conveniência para o condutor, mas sim uma necessidade para garantir a segurança da recarga, do veículo e da rede elétrica local.
Segurança em primeiro lugar
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece, na norma NBR 17019:2022 – Instalações elétricas de baixa tensão – Requisitos para instalações em locais especiais – Alimentação de VEs (veículos elétricos), elaborado pelo Comitê Brasileiro de Eletricidade (ABNT/CB-003), os requisitos para a instalação elétrica fixa destinada a fornecer energia elétrica aos veículos elétricos e/ou a receber energia elétrica a partir dos veículos elétricos.
A norma abrange aspectos técnicos, como seleção de equipamentos, instalação, operação, manutenção e procedimentos de segurança, com o objetivo de garantir a eficiência e a segurança do sistema, seja ele em aplicações residenciais, comerciais ou industriais.
Além de respeitar a norma brasileira, seguir as instruções dos fabricantes do carregador e também do veículo é um fator crucial para a segurança do usuário e dos equipamentos.
Para Eduardo Pina, CEO da Incharge, empresa especializada no desenvolvimento de soluções de recarga em condomínios no Brasil, todo projeto de instalação de carregadores de veículos elétricos deve começar pela segurança.
“Quando nós falamos de segurança, são vários aspectos que devem ser observados, e nunca uma ação pontual que vai trazer o máximo de segurança. Toda instalação de carregadores deve ser acompanhada previamente de um pequeno projeto, um diagrama unifilar, feito por um profissional credenciado com a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que o engenheiro ou técnico assume sobre aquilo que ele fez. A instalação deve ser feita por um profissional capacitado, e não o mais barato. Escolha um eletricista experiente, competente, com experiência na instalação de carregadores elétricos”, afirma Pina.
A opinião é compartilhada por Rodrigo Oliveira, gerente de produtos da Fluke, empresa líder mundial em instrumentos e ferramentas de teste e medição. “Instalar carregadores veiculares é seguro em qualquer ambiente, desde que os cuidados com a instalação e com os carregadores sejam tomados. Se você vai fazer uma instalação em edifícios antigos, que já têm uma capacidade instalada, você precisa verificar se consegue atender a necessidade com essa capacidade ou se será necessário realizar obras ou expansão do sistema elétrico. É preciso se atentar ao dimensionamento correto do sistema, além dos cuidados com os carregadores”, diz Oliveira.
Localização, dimensionamento e proteções
A escolha do local da instalação também deve ser realizada de maneira a garantir a segurança do projeto, contemplando a facilidade do acesso do usuário e a proximidade da fonte de energia elétrica.
Já o dimensionamento da carga elétrica, cujo processo é calcular a quantidade de energia necessária para alimentar todos os aparelhos e dispositivos elétricos de uma residência, incluindo o veículo elétrico, garante a melhor eficiência da instalação, com mais qualidade no fornecimento de energia e maior durabilidade dos equipamentos.
Para completar, é preciso ter as proteções do sistema, para evitar surtos elétricos, sobrecargas, curtos-circuitos e acidentes com choques elétricos. Por isso, é indispensável ter um quadro de proteção com dispositivos como Interruptor Diferencial Residual (IDR), Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS), e disjuntores.
O Interruptor Diferencial Residual (IDR) atua para proteger a instalação contra a fuga de corrente, que pode causar choques elétricos, evitando, assim, acidentes graves. O IDR protege os usuários, os veículos e o próprio sistema de recarga.
Já o Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS) protege o sistema contra sobretensões temporárias que podem ocorrer devido a descargas atmosféricas ou manobras na rede elétrica. Ao menor sinal de sobretensão, o DPS desvia a carga para a terra, assegurando a integridade dos equipamentos na instalação.
Por fim, os disjuntores fazem a proteção da instalação elétrica contra sobrecorrentes e curto-circuito, desligando o sistema automaticamente em caso de anormalidade.
Vale lembrar ainda que a instalação do carregador elétrico deve levar em consideração as especificações do veículo, incluindo a potência máxima de recarga em corrente alternada (AC), a capacidade da bateria do veículo e a rede elétrica disponível. Adotando essas medidas, e realizando manutenções periódicas, o motorista de carro elétrico estará seguro para recarregar as baterias do veículo sempre que necessário.
Cuidados na instalação
Apesar de as normas apresentarem as boas práticas para instalações de carregadores, ainda há erros comuns nessas instalações. Um deles é a distância entre o carregador e o veículo, que não deve ser superior a cinco metros. O local da instalação também deve estar preferencialmente protegido de intempéries, como sol ou chuva. Outro problema é a falta de proteção a animais de estimação e crianças, para evitar o contato com os cabos.
“Mesmo atendendo a todas as questões de segurança que as normas estabelecem, muitas vezes acabamos cometendo alguns deslizes. Um exemplo claro é aquela tomada industrial, que muitas vezes se coloca ao lado do carregador para facilitar a instalação. Isso pode jogar fora horas e horas de desenvolvimento em segurança dos carregadores veiculares”, alerta Eduardo Pina, CEO da Incharge.
“Quando você pluga o carregador no carro, o veículo trava o conector até ‘conversar’ com o carregador e liberar a energia para a recarga. Se você tentar tirar o plugue do carro, durante o processo de carregamento, ele não vai sair, pois estará travado. Mas se aquela tomada industrial estiver com acesso fácil, e alguém quiser interromper a recarga de forma bruta, aquela tomada estará energizada e representará um risco de choque elétrico, mesmo que a instalação esteja de acordo com as normas. Esse é o perigo”, diz.
Para Rodrigo Oliveira, gerente de produtos da Fluke, os diferentes equipamentos disponíveis no mercado, cada um com especificações e potências próprias, também podem representar uma dor de cabeça aos usuários.
“A questão da eletrificação veicular trouxe algumas formas de fazer esse carregamento, desde utilizar uma tomada comum, até os que conhecemos como instalações fixas, normalmente usados em residências e estabelecimentos comerciais, e ainda os de carga rápida, em corrente contínua. São sistemas relativamente novos e muitas pessoas ainda não conhecem os riscos. Então, temos diferentes tipos de carregadores e diferentes necessidades para atender esses carregadores, e diferentes formas de testar esses carregadores para ver se estão adequados, ou não”, diz Oliveira.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.