Geely EX2 tem tração traseira. Foto: Divulgação/Rodolfo Buhrer/Geely Brasil.
A expansão dos veículos elétricos tem levado as montadoras a rever escolhas tradicionais de engenharia, entre elas o tipo de tração adotado. Enquanto a tração dianteira dominou o mercado por décadas, a tração traseira volta a aparecer como configuração padrão em diversos modelos elétricos, influenciada pela forma como o motor entrega potência, pela distribuição de peso e pelos sistemas eletrônicos de controle.
Por que a tração traseira faz mais sentido nos carros elétricos
A principal explicação está na física. Em um carro elétrico, o motor entrega torque máximo de forma instantânea. Durante a aceleração, o peso do veículo se transfere naturalmente para o eixo traseiro, aumentando a aderência das rodas posteriores. Em modelos mais potentes, administrar essa força pelas rodas dianteiras pode comprometer a tração e a precisão da direção.
Por esse motivo, fabricantes como Tesla utilizam a tração traseira como configuração padrão em versões de um único motor, enquanto a Volvo adotou esse layout em modelos elétricos recentes, como o EX30. No caso dele, a potência superior a 200 kW inviabiliza, do ponto de vista técnico, o uso exclusivo da tração dianteira.
Essa lógica também começa a aparecer em lançamentos mais recentes no mercado brasileiro. Um exemplo é o Geely EX2, que chegou ao país no segundo semestre de 2025 com tração traseira, e teve boa aceitação inicial do público. O modelo ajuda a mostrar como a configuração RWD deixa de ser restrita a carros esportivos ou de alto desempenho e passa a fazer sentido também em elétricos compactos e urbanos.

Maior equilíbrio na tração traseira
Outro fator relevante é a arquitetura dos veículos elétricos. A ausência de um eixo de transmissão permite que o motor seja instalado diretamente no eixo traseiro. Já o conjunto de baterias, posicionado sob o assoalho, contribui para uma distribuição de peso mais equilibrada entre os eixos e para um centro de gravidade mais baixo.
A eletrônica embarcada também tem papel central nesse movimento. Os sistemas de controle de tração e estabilidade atuam diretamente sobre o motor elétrico, modulando a entrega de potência de forma rápida e precisa. Esse controle reduz situações de perda de aderência que, no passado, tornavam a tração traseira menos previsível em veículos convencionais.
Mesmo na frenagem regenerativa — que poderia, em tese, favorecer a tração dianteira —, os testes realizados pelas montadoras indicam que há aderência suficiente no eixo traseiro para atender às demandas de recuperação de energia, sem prejuízo ao comportamento dinâmico do veículo.

Relação entre potência e uso
A tração dianteira segue sendo uma solução adequada para veículos urbanos de menor potência, especialmente quando o foco é custo e simplicidade. Nos veículos elétricos, porém, a combinação entre entrega de torque, distribuição de peso e controle eletrônico faz com que a tração traseira seja, em muitos casos, a escolha técnica mais adequada.

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.