Programa realizou mais de 320 mil medições. Foto: Divulgação/TRUE
Um novo estudo da iniciativa internacional The Real Urban Emissions (TRUE), em parceria com a Cetesb, lançou luz sobre a real situação das emissões dos veículos que circulam na Região Metropolitana de São Paulo. Em sua primeira campanha de sensoriamento remoto no Brasil, o programa realizou mais de 320 mil medições, revelando que diversos segmentos da frota emitem níveis de poluentes muito acima dos limites estabelecidos pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve).
Entre os carros de passeio, os modelos certificados na fase L3 (implementado em 1997) do Proconve apresentaram as maiores emissões em condições reais de uso. Os níveis de óxidos de nitrogênio (NOx) chegaram ao dobro do permitido, enquanto monóxido de carbono (CO) ficou quatro vezes acima e de hidrocarbonetos (HC), 19 vezes acima dos limites. Esses veículos também se destacaram nas emissões evaporativas, importantes precursoras da formação de ozônio (O3).
Apesar de representarem apenas 5,5% da amostra avaliada, a substituição desses modelos por modelos elétricos teria impacto expressivo na qualidade do ar da metrópole.
Eletrificação plena
A análise da TRUE reforça que, no Brasil, proprietários de veículos não encontram hoje estímulos concretos para substituir carros antigos, tampouco incentivos robustos para adotar modelos 100% elétricos, isso porque veículos mais antigos se tornam isentos de impostos.
Como forma de mudar esse problema, os especialistas recomendam que políticas públicas futuras priorizem a retirada de veículos antigos e de combustão e incentivem diretamente a aquisição de elétricos puros (BEVs). Além de reduzir emissões, medidas desse tipo fortalecem a cadeia produtiva nacional, estimulam o mercado de tecnologia limpa e contribuem para a criação de empregos.
O panorama apresentado pela campanha da TRUE indica que, para além dos padrões regulatórios, o Brasil precisará investir em estratégias de fiscalização, renovação de frota e incentivo à eletrificação se quiser reduzir de forma efetiva a poluição veicular em suas grandes cidades.
Padrão P8 ainda não entrega reduções esperadas nas ruas
O estudo também indicou que veículos certificados na fase P8, implementado em 2023 – a mais recente do Proconve –, apresentaram emissões reais mais de três vezes acima do limite de NOx e quatro vezes acima do permitido para material particulado (MP).
Segundo a pesquisa, a comparação com padrões europeus sugere que o Brasil poderia exigir testes de conformidade em serviço para faixas menores de potência e incluir verificações de emissões a frio, o que ajudaria a reduzir poluentes em ambientes urbanos.
Táxis e carros de aplicativo
Outro destaque preocupante nos níveis poluentes vem dos táxis e dos veículos de transporte por aplicativo com motores flex. Esses modelos emitiram, em média, o dobro de NOx, CO e HC em relação aos automóveis particulares.
Para os pesquisadores, fiscalizações obrigatórias poderiam identificar causas desse comportamento, ao mesmo tempo em que uma transição acelerada para veículos elétricos teria potencial significativo de redução de emissões nesse segmento.
Veículos urbanos de carga
Os veículos urbanos de carga (VUCs), majoritariamente enquadrados no padrão P7 e usados em entregas curtas, também se mostraram grandes emissores. Seus níveis de poluentes ultrapassaram em mais de duas vezes os limites do Proconve.
Segundo o estudo, políticas de incentivo à eletrificação desse segmento, como descontos, isenções fiscais e até restrições progressivas ao diesel em áreas centrais reduziriam a exposição da população a poluentes associados a riscos cardiovasculares e respiratórios.

Jornalista graduada pela UNIP desde 2023. Atuou como repórter em veículos de comunicação na região de Campinas com experiência em impresso, digital e TV. Acompanha o mercado de veículos elétricos para o Canal VE.