
Estações de recarga disponíveis em São Paulo. Foto: Reprodução/Plugshare
No Brasil, o mercado de recarga pública ainda está nascendo, mas já tem gente repetindo velhas estratégias: instalar carregadores em lugares movimentados e esperar que os motoristas apareçam.
Se formos analisar os dados, a realidade não é tão simples assim. Boa parte dos carregadores acaba ficando parada a maior parte do tempo.
Enquanto isso, o dinheiro continua sendo investido, mas sem retorno claro. E, embora muitos ainda estejam começando, é importante lembrar que os investidores estão de olho em modelos de negócio que façam sentido no longo prazo. A conta precisa fechar, e simplesmente instalar mais carregadores não resolve o problema.
A verdadeira oportunidade está em mudar o jogo. Não basta esperar pela demanda. É preciso guiar os motoristas até os carregadores certos antes mesmo da jornada começar.
Outros setores já fazem isso. Na hotelaria por exemplo, com canais de busca e distribuição para aumentar a taxa de ocupação dos quartos. Ou nas companhias aéreas, que recebem incentivos para pousar em aeroportos estratégicos. Postos de combustíveis trabalham com a marca, a conveniência e a fidelização.
A recarga de veículos elétricos também precisa aprender a atrair o motorista, e não só esperar por ele.

Estratégias para atrair motoristas
O desafio não é “instalar mais” carregadores. É fazer com que eles sejam mais usados. E a resposta para isso passa por três pilares que muitos CPOs (Charge Point Operators) ainda ignoram:
1) Precificação dinâmica com inteligência de demanda
Ajustar os preços com base em horários de pico, volume e comportamento dos motoristas pode ajudar muito a distribuir a demanda e atrair motoristas para horários ociosos — sem reduzir a margem.
2) Oferta de serviços no local
Locais com segurança, wi-fi, café, lojas ou parcerias com comércios próximos deixam o ponto de recarga mais atrativo. O motorista vê valor em parar ali — mesmo que o tempo de carga seja maior.
3) Foco na experiência do usuário
Interface simples, comunicação clara, e carregador que funciona. Parece básico, mas ainda é raro. Quem entrega uma jornada fluida fideliza o motorista e aumenta a recorrência.
CPOs que entendem essa demanda atraem mais clientes para o ponto de recarga, criando a própria demanda. Parece pouco, mas um leve aumento na taxa de utilização pode representar um salto bem interessante na receita de uma rede de recarga.

Planejamento da recarga
Os motoristas planejam com antecedência onde vão carregar. Eles escolhem com base em preço, conveniência, confiabilidade e disponibilidade. Quem conseguir influenciar essa decisão antes da viagem, vai capturar a maior parte do valor.
Confiar na estratégia de “ter um pin no mapa” não é das melhores. A cada dia surgem novos pontos de recarga, e o mapa fica mais cheio, mais competitivo e menos relevante. Estar listado já não garante visibilidade, muito menos uso. O que pode parecer um diferencial, na prática é só o ponto de partida.
Sem estratégia para atrair ativamente os motoristas, o carregador corre o risco de virar só mais um ponto invisível no meio de tantos outros. A pergunta é: quem vai continuar esperando e quem vai começar a direcionar o fluxo?

Founder da Spott, especialista em inovação e estratégia no setor de eletromobilidade, atua na construção de modelos de negócio escaláveis para redes de recarga, ajudando operadores a monetizar carregadores e otimizar a gestão, deixando mais eficiente e acessível.