
Triciclo 100% elétrico Fever RAP FR250 reduz custos na logística de last mile. Foto: Divulgação/Fever Mobilidade.
O e-commerce brasileiro caminha para registrar um faturamento recorde em 2025. Segundo projeções da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), a receita pode atingir R$ 234,9 bilhões até o final do ano, com mais de 435,6 milhões de pedidos online. Assim, soluções inteligentes de logística, incluindo o transporte limpo, sem emissões, são valorizadas pelos consumidores, ao mesmo tempo em que podem gerar economia — e maior lucro — para os operadores.
Com a pressão de reduzir custos e maximizar a eficiência das entregas, a eletrificação das frotas aparece como uma solução viável, prática e escalável, especialmente no last mile (a última fase da logística de entregas), para garantir agilidade e conforto aos motoristas e entregadores, enquanto atende às metas de sustentabilidade cada vez mais rigorosas.
“A logística é o coração da operação varejista. E, justamente por isso, ela precisa ser repensada. Com margens cada vez mais estreitas e o custo logístico pesando significativamente no resultado, os veículos elétricos deixaram de ser uma aposta futurista e se tornaram uma ferramenta estratégica para quem deseja se manter competitivo”, afirma Lucas Zanon, CEO da EVolution Mobility, empresa especializada na eletrificação de frotas comerciais.

Tecnologia a favor das entregas
Para o delivery, a tecnologia e a automação como base da eficiência são fundamentais para as entregas dentro do prazo. Por isso, o planejamento antecipado de rotas, a integração com estoques em tempo real, e a análise constante dos dados, incluindo custos, visando a máxima eficiência nas entregas, passou a ser obrigatório para quem quer se destacar no setor.
Além disso, é preciso estar atento às necessidades e características de cada região, para adequar a logística. Nesse contexto, há espaço para caminhões, vans, furgões, carros, triciclos, motos e bikes, conforme a demanda.
“Na logística de last mile, eu costumo usar o termo ‘guerrilha’, porque cada cenário tem uma necessidade específica. Uma entrega na Mooca é diferente de uma no Campo Belo. A densidade é diferente, o trânsito é diferente, o tipo de pacote, o tamanho, tudo é diferente. Então, é o approach de guerrilha. Não existe uma solução única que resolva tudo. A gente tem que ser inteligente para analisar qual tipo de solução funciona melhor para cada lugar”, afirma Alex Fontes, gerente sênior de transportes do Mercado Livre.
“Dentro do conceito de guerrilha nas entregas, a eletrificação aparece como uma solução a mais para reduzir custos e emissões. O Mercado Livre continua investindo nas frotas elétricas, mas com a responsabilidade de saber como usar esses veículos, para aproveitar as vantagens que eles entregam nas operações”, completou Fontes, citando que a empresa realiza cerca de 12 mil entregas por dia em todo o Brasil.
Entre os veículos utilizados pela companhia está o Arrow One, van 100% elétrica da Arrow Mobility, que promete produtividade equivalente à de duas vans a combustão. Desenvolvido em Caxias do Sul (SP), o Arrow One se destaca pela facilidade na operação, incluindo acesso integrado da cabine ao compartimento de carga e uma pulseira FastOne, que emite um sinal para abrir e fechar a porta elétrica lateral por aproximação, facilitando a operação do trabalhador — especialmente quando os pedidos estão em mãos —, diminuindo pela metade o tempo gasto em cada parada para entrega.

Além das facilidades para os motoristas e ajudantes, o veículo possui sistema de telemetria que permite monitorar em tempo real o desempenho, a localização e o consumo de energia do veículo, garantindo uma gestão mais precisa para o operador logístico.
“O nosso propósito é conduzir a revolução na logística urbana sustentável. Os motoristas que operam o Arrow One chegam às suas casas quatro ou cinco horas antes do que fariam com outros veículos. A produtividade vem não só para que a empresa pague o investimento em um veículo elétrico, que ainda é um veículo mais caro, mas também para trazer o bem-estar para o motorista”, disse Julio Cesar Balbinot Jr., um dos co-fundadores da Arrow Mobility.
De acordo com o empresário, o Arrow One tem até quatro vezes mais economia que uma van tradicional a combustão. Para cada R$ 1,00 gasto rodando com diesel ou gasolina, a van 100% elétrica gasta aproximadamente R$ 0,20 com energia elétrica.

Mudança de hábitos do consumidor
De acordo com a plataforma global de dados e inteligência empresarial Statista, o mercado de e-commerce no Brasil está passando por um crescimento notável, impulsionado por fatores como o aumento da penetração da internet, a migração para as compras online e a crescente demanda dos consumidores por conveniência em diversas categorias de produtos — de itens essenciais para o lar até eletrônicos.
A pandemia de Covid-19 forçou uma mudança de hábito de grande parte dos consumidores, em especial nas compras de supermercados. E os serviços de entrega não perderam força após esse período. Em muitos casos, o delivery aumentou, como o do chamado quick commerce — entrega rápida de pequenas quantidades de produtos.
“O comportamento do consumidor atual faz com que ele peça tudo de casa hoje. Desde um sanduíche, passando por um remédio para dor de cabeça e até uma geladeira. E o frete precisa ter uma performance que viabilize toda essa logística”, afirma Nelson Füchter Filho, fundador e CEO da Fever Mobilidade, empresa que conta com portfólio variado para entregas, desde triciclos até veículos urbanos de cargas (VUC).
“Existe um paradoxo na logística. Um avião que viaja milhares de quilômetros carregando um grande lote de produtos desde a fábrica até o galpão tem o frete mais barato do que o transporte de um centro de distribuição regional até a porta da casa do cliente. Mais de 50% do custo da cadeia logística está na última milha. Por isso, o veículo de última milha precisa ter custo baixo na hora que se movimenta, para não correr o risco desse frete ser mais caro que a própria mercadoria”, conta o empresário, citando que os veículos da Fever oferecem um custo de R$ 0,16 por quilômetro rodado.
Para se destacar no mercado, a empresa oferece soluções integradas, desde o início da operação até a fase de pós-vendas, de acordo com as necessidades dos clientes. “O veículo Fever é pensado para rodar abaixo de 250 km por dia, mas fazendo quantas entregas necessárias, sempre dentro da zona urbana, naquele para e anda do trânsito, que é sempre a dor dos empresários de logística. Sem um veículo apropriado, dificilmente o empresário conseguirá reduzir o tempo e o custo das entregas, o que afetará a receita no fim do mês”, completa Füchter Filho.

Benefícios da eletrificação da frota no e-commerce
O ambiente regulatório brasileiro, com leis rigorosas de proteção ao consumidor, influencia diretamente as transações online. Aliado à vasta extensão territorial e diversidade cultural, com a população em rápida urbanização, o país tem desafios logísticos. Mas isso gera oportunidades para a inovação na logística de last mile. Por isso, a combinação de fatores oferece um ecossistema dinâmico, que pode se adaptar a cada região com estratégias diferentes.
“As soluções de gestão de recarga inteligentes permitem planejar as rotas e os horários ideais para manter a frota sempre disponível, sem desperdício de tempo ou energia. O carregamento da bateria do veículo pode ser feito no próprio centro de distribuição, com planejamento noturno e uso de energia com tarifa reduzida”, diz Lucas Zanon, CEO da Evolution Mobility.

Pautas ambientais em alta
Vale destacar ainda o maior interesse dos brasileiros em pautas ambientais, o que pode pesar na decisão de compra. A sustentabilidade em todas as fases da cadeia logística garante pontos a mais perante a concorrência.
Além disso, a matriz energética brasileira, majoritariamente limpa, é benéfica para os veículos elétricos. Operações integradas a sistemas de geração de energia fotovoltaica, por exemplo, podem ser ainda mais eficientes, se usadas com planejamento e infraestrutura adequada.
“A eletrificação das frotas no varejo é um passo lógico e estratégico. Com ela, o setor avança em direção a uma logística mais moderna, resiliente e alinhada às demandas de um consumidor cada vez mais exigente em custo, em agilidade e em consciência”, completa Zanon.

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.