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Férias testam recarga pública e confiança em carros elétricos

carro elétrico em eletroposto

Carro elétrico recebe recarga em eletroposto na Rodovia D. Pedro I, em São Paulo. Foto: Rubens Morelli/Canal VE.

O aumento das viagens no fim de ano tem colocado à prova a infraestrutura pública de recarga para veículos elétricos no Brasil. Com mais motoristas na estrada ao mesmo tempo, os períodos de pico viram um teste tanto para quem utiliza um carro elétrico pela primeira vez em trajetos longos quanto para os operadores responsáveis por manter os eletropostos disponíveis, estáveis e funcionais.

Com a frota recarregável em crescimento e a recarga pública se tornando parte do planejamento de viagem, a experiência vivida nas férias tende a influenciar diretamente a percepção do consumidor sobre a mobilidade elétrica. A alta demanda por recarga nas férias mostra onde o sistema funciona — e onde ainda precisa evoluir. 

Veículo preto estacionado em um eletroposto fazendo o carregamento
Demanda por eletropostos em rodovias aumenta em todo o país. Foto: Rubens Morelli/Canal VE

O olhar do usuário

Para muitos proprietários de veículos elétricos, as férias representam a primeira experiência fora do uso urbano. Até então, a recarga costuma acontecer em casa ou em pontos já conhecidos. Na estrada, o motorista passa a depender de uma infraestrutura pública que ainda está em processo de expansão e amadurecimento — e, em períodos de alta demanda, disputa vagas e carregadores com outros usuários em situação parecida.

Encontrar filas em eletropostos, instabilidade no sistema de pagamento ou dificuldade para iniciar uma recarga pode gerar frustração imediata, especialmente para quem ainda está formando sua opinião sobre o carro elétrico. 

Diferentemente do usuário experiente, o motorista iniciante tende a associar qualquer falha ao próprio conceito da mobilidade elétrica, e não a questões pontuais de operação.

Nesse contexto, previsibilidade e informação passam a ser tão relevantes quanto potência. Saber onde estão os carregadores, quais estão disponíveis e quanto tempo será necessário para seguir viagem reduz a ansiedade e melhora a experiência.

Para Bernardo Durieux, CEO da Voltbras, empresa brasileira especializada em tecnologia para gestão e integração de redes de recarga para veículos elétricos, o comportamento do usuário em períodos de pico exige atenção especial. 

“Quando o fluxo aumenta, pequenas falhas podem se tornar grandes problemas. Para quem está viajando pela primeira vez com um carro elétrico, qualquer interrupção gera insegurança. Por isso, a experiência precisa ser estável e previsível”, afirma.

carregadores Shell
Carregador rápido viabiliza viagens mais longas. Foto: Divulgação/Rubens Morelli

O olhar do operador de recarga

Se o motorista busca confiança na recarga, a demanda elevada nas viagens de fim de ano se transforma em um teste de estresse para o CPO (Charging Point Operator), o operador da estação de recarga. O aumento simultâneo de usuários, muitas vezes concentrado em horários semelhantes, evidencia gargalos que nem sempre aparecem em dias de uso regular.

Nessas situações, a indisponibilidade de um carregador ou uma falha de pagamento não impacta apenas um usuário: pode gerar efeito cascata com filas, atrasos, reclamações e desgaste da imagem do serviço. Para o CPO, a estabilidade deixa de ser apenas uma questão técnica e vira também um fator que pode gerar impacto positivo ou negativo na reputação da rede.

Durieux reforça a importância de preparação para atravessar esses períodos críticos. “Alta demanda não deve significar instabilidade. Operadores que se antecipam, com processos sólidos e tecnologia confiável, conseguem manter o serviço funcionando mesmo nos momentos mais desafiadores”, afirma.

Entre as práticas consideradas essenciais estão a redundância nos meios de pagamento, a manutenção de firmwares estáveis e homologados e um suporte técnico capaz de responder rapidamente a falhas operacionais. “O motorista precisa ter alternativas. Se um meio de pagamento falhar, outro deve funcionar. Isso evita filas, reduz o tempo parado e garante que a viagem continue”, completa.

Eletroposto da Volvo fornece energia elétrica para carros conectados
Número de eletropostos nas rodovias cresce a cada mês. Foto: Divulgação/Volvo.

Comunicação e previsibilidade

Além da infraestrutura física, a comunicação com o usuário ganha peso em períodos de alta demanda. Informar previamente sobre estações disponíveis, novos pontos de recarga e alternativas em rotas mais movimentadas ajuda a distribuir melhor o fluxo e reduz a pressão sobre locais específicos.

Para o operador, orientar o motorista é uma forma de proteger a operação. Para o usuário, é uma ferramenta que torna a viagem mais previsível e menos estressante. “A experiência do motorista não começa quando ele conecta o cabo, mas quando ele planeja a viagem. Quando há informação clara e sistemas funcionando, a recarga deixa de ser uma preocupação e passa a fazer parte do trajeto”, resume Durieux.

Mapa do PlugShare com eletropostos em destaque
Mapa do app PlugShare mostra carregadores rápidos disponíveis no Brasil em dezembro de 2025. Foto: Reprodução/PlugShare.

Crescimento da eletromobilidade aumenta o peso do desafio

De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), até novembro de 2025 o Brasil contava com mais de 367 mil veículos elétricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV) em circulação — modelos que dependem de recarga externa. No acumulado de janeiro a novembro, pouco mais de 155 mil veículos com essas tecnologias foram vendidos, acima das 125 mil unidades registradas em todo o ano de 2024.

No recorte de infraestrutura, o último levantamento divulgado pela ABVE, em setembro de 2025, apontou 16.880 estações de recarga no país, sendo 3.855 em corrente contínua (DC). Desde então, novos pontos passaram a operar, elevando a oferta disponível para quem viaja. 

Detalhe de uma recarga rápida em carro branco
Infraestrutura de recarga rápida está em crescimento no Brasil. Foto: Canal VE.

Ecossistema em construção

Usuários e operadores compartilham o mesmo ponto sensível: confiança. Para o motorista, confiança para viajar. Para o CPO, confiança de que sua infraestrutura suportará a demanda sem comprometer a experiência.

Em um mercado ainda em consolidação, as férias funcionam como vitrine. Cada recarga bem-sucedida ajuda a fortalecer a percepção da mobilidade elétrica como alternativa viável. Falhas recorrentes, por outro lado, reforçam receios que o setor ainda precisa superar. Estabilidade operacional, boa comunicação e experiência do usuário tendem a ser fatores centrais para sustentar o avanço da eletromobilidade no Brasil.

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