Conflito entre Rússia e Ucrânia começa a impactar o mercado de veículos elétricos
As pessoas que estão pensando em adquirir um veículo elétrico precisam estar atentas. Os veículos deste segmento terão os preços impactados diretamente por conta dos conflitos entre Rússia e Ucrânia. O principal motivo é a matéria prima já que, como se sabe, a Rússia é o maior fornecedor mundial de níquel, material muito usado em baterias de carros elétricos e híbridos, enquanto a Ucrânia é fornecedora de condutores elétricos para estes veículos.
Além dessas matérias primas, principalmente na rede de eletropostos (estações de carregamento de bateria), a falta de componentes já começa, mesmo de maneira tímida, a afetar a produção de carregadores veiculares, situação que pode piorar caso as fabricantes sofram ainda mais com a distribuição irregular de insumos.
O conflito entre Rússia e Ucrânia está desajustando diversos setores industriais do mundo, ocasionando problemas como a falta de matéria prima e atraso nas entregas de encomendas.
Apesar desses impactos, Pedro Bentancourt, vice-presidente de Veículos Leves da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e diretor de Relações Governamentais da Great Wall Motor, não vê grandes mudanças no cenário para os próximos meses.
“Acredito que os preços dos veículos elétricos poderão ter alta sim por conta da matéria prima, mas também avalio que as empresas se prepararam e tem estoque para se manterem nos próximos cinco ou seis meses. No entanto, se esse conflito se estender por mais tempo, as coisas podem mudar um pouco”, disse.
Ele destacou ainda que o segmento de carros elétricos no Brasil é bastante dependente de importações, mas os veículos à combustão podem sentir mais os impactos negativos.
“O mercado de veículos elétricos ainda é muito pequeno no país, mesmo se as vendas dobrarem acredito que o impacto ainda seria pequeno, já que registram um número muito pequeno de vendas. Já os veículos a combustão, esses podem ter um impacto negativo muito maior se não houver uma solução para os conflitos na Ucrânia”, completou.
Valorização das commodities e crise dos semicondutores
A região onde está localizada a Rússia e a Ucrânia concentra grande oferta de itens intrinsecamente ligados ao setor automotivo, como petróleo, gás natural, aço e alumínio.
Com o conflito entre os dois países, a oferta global desses itens caiu, causando uma escalada dos preços, atingindo também os custos para a indústria automotiva.
Além disso, a falta de chips eletrônicos para equipar veículos pode voltar a se agravar com o conflito, já que a região produz matérias primas importantes para a fabricação de semicondutores que sofreu escassez no ano passado por conta das fábricas paradas devido a pandemia de covid-19.
Se não bastasse esses fatores, uma das principais fábricas no Japão, teve um incêndio que interrompeu a produção. Já nos Estados Unidos, as condições climáticas afetaram o fornecimento. O aumento no preço do frete pela demanda alta e a falta de contêineres para transporte também pesaram, gerando mais despesas para as montadoras devido ao grau de internacionalização da produção.
Vendas na Europas
As vendas de carros na União Europeia devem aumentar 7,9% este ano à medida que os problemas de fornecimento de semicondutores diminuem, mas ainda estarão cerca de 20% abaixo dos níveis pré-pandemia de 2019. Os dados são da ACEA (Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis).
A associação que representa as 16 principais montadoras sediadas na Europa, afirmou que crescimento em 2022 vai ocorrer após queda de 2,4% de 2021 guiada pela falta de componentes eletrônicos, especialmente durante a segunda metade do ano passado e atualmente, por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
A ACEA disse ainda em comunicado que o fornecimento de chips deve se estabilizar em 2022, permitindo que os emplacamentos na União Europeia subam para 10,5 milhões de veículos.
O conflito na Europa vem deixando o dólar instável fazendo com que o custo da logística e dos insumos também tenha alta, afetando todo setor automotivo. No Brasil, as montadoras usam diversos componentes estrangeiros para fabricar automóveis, que vão de eletrônicos a motores, de ferro a borracha.
As empresas projetam vender 2 milhões de veículos em 2022, número próximo ao de 2021. Trata-se de desempenho pequeno, já que representa uma queda de quase 25% em relação a 2019, último ano antes da pandemia.