Donald Trump reassume a presidência dos Estados Unidos. Foto: Divulgação/Arquivo/Agência Brasil.
No primeiro dia à frente da presidência dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou as primeiras medidas que devem impactar o setor de eletromobilidade naquele país. Ao assinar a ordem executiva “Unleashing American Energy” (Destravando a Energia Americana, numa tradução livre), o novo presidente promete eliminar o que chama de “mandato de VEs”, um termo tecnicamente incorreto para descrever as regulamentações da EPA (Agência de Proteção Ambiental) que exigem emissões reduzidas em novos veículos.
O termo “mandato”, usado por Trump, historicamente se refere às regras da EPA que exigem que montadoras reduzam significativamente as emissões de gases de efeito estufa de seus veículos novos a partir de 2027. Antecessor no cargo, Joe Biden havia estipulado uma meta de que 50% das vendas de veículos novos fossem totalmente elétricos em 2030, mas essa meta não era vinculativa, ou seja, não era regulamentada formalmente.
Além disso, Trump considera o fim de subsídios e incentivos fiscais para veículos elétricos, como os previstos na Lei de Redução da Inflação (IRA). No entanto, reverter esses créditos demanda aprovação do Congresso e um longo processo regulatório.
O novo presidente ainda ordenou a pausa na liberação de fundos de programas como o National Electric Vehicle Infrastructure Formula Program (NEVI) e o Charging and Fueling Infrastructure Discretionary Grant Program (CFI). A medida atinge potencialmente a indústria de recarga e o desenvolvimento de carregadores rápidos, então em rápido crescimento, impactando diversas empresas, incluindo a Tesla, uma das maiores beneficiárias.
Por outro lado, medidas esperadas para o primeiro dia de governo, como a imposição de tarifas sobre produtos importados, incluindo carros do México, Canadá e China, foram adiadas para fevereiro, o que demonstra um recuo em relação a uma promessa central feita durante a campanha que o levou à Casa Branca.
Impactos para a eletromobilidade
O objetivo de Trump ao assinar as medidas é “promover a verdadeira escolha do consumidor, essencial para o crescimento econômico e a inovação, removendo barreiras regulatórias ao acesso a veículos motorizados”.
Na prática, porém, a suspensão dos fundos e a revisão de regulamentações podem desacelerar o crescimento da infraestrutura de recarga e a expansão dos veículos elétricos e híbridos plug-in nos EUA.
A decisão também pode causar outro efeito. Especialistas alertam que tais medidas podem colocar a indústria automotiva americana em desvantagem em relação à Europa e à China, que estão investindo massivamente na eletrificação. Na Europa, cerca de 50% dos carros novos vendidos em 2023 eram híbridos ou elétricos, e a China deve atingir 50% de vendas de VEs este ano.
Resistência interna
Donald Trump ainda pode ter de enfrentar resistência interna. Isso porque, apesar do crescimento mais lento nos últimos anos, os veículos elétricos permanecem como o setor de automóveis de maior expansão nos Estados Unidos, com 8% de participação nas vendas de todos os carros novos em 2024.
E ainda há, em andamento, grandes investimentos em fábricas de veículos elétricos. A nova planta da Hyundai, por exemplo, é o maior projeto econômico da história do estado da Geórgia. Outros estados, como Carolina do Norte, Carolina do Sul, Kentucky e Tennessee, por exemplo, também têm investimentos em eletromobilidade e podem mostrar resistência.
Desafios futuros
Para promover a indústria do petróleo e do gás nos Estados Unidos, o novo presidente declarou que a EPA deveria “onde apropriado, reconsiderar isenções de emissões estaduais que funcionam para limitar a venda de automóveis movidos a gasolina”. E ainda, a “considerar a eliminação de subsídios injustos e outras distorções de mercado mal concebidas impostas pelo governo, que favorecem os veículos elétricos em detrimento de outras tecnologias e efetivamente obrigam sua compra.”
Porém, apesar de ter assinado ordens executivas em seu primeiro dia na presidência, Trump precisará superar desafios legais para ver algumas das medidas em ação.
Especialistas e analistas americanos afirmam que a política de emissões da administração Biden não pode simplesmente ser revogada e que sua alteração exigirá um longo processo de revisão, incluindo audiências públicas e outros procedimentos de elaboração de regras. Além disso, um novo processo legislativo no Congresso seria necessário para revogar a Lei de Redução da Inflação e os créditos fiscais associados aos veículos elétricos.
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.