
Transição energética da mobilidade está ganhando escala. Foto: Divulgação/Freepik.
As fabricantes automotivas com sede na China estão consolidando uma liderança significativa no mercado global de veículos de emissão zero (ZEV). É o que aponta a terceira edição do Global Automaker Rating, estudo produzido pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), que avalia o desempenho dos 21 maiores fabricantes de veículos (OEMs) na transição para a eletrificação.
O resultado confirma a posição da China como protagonista da transição energética no setor automotivo. Segundo o relatório, o país já é responsável por mais de 11 milhões de veículos elétricos vendidos por ano, o que representa mais da metade das vendas globais de EVs.
As fabricantes chinesas têm aproveitado a força de seu mercado doméstico para ganhar escala e acelerar o desenvolvimento tecnológico. Agora, começam a conquistar também os mercados internacionais.
As montadoras da China lideraram o ranking de diversidade de veículos de emissão zero, ocupando as cinco primeiras posições nessa categoria. Também dominaram o quesito de participação de mercado: cinco das seis montadoras com maior volume de vendas de veículos elétricos no mundo são chinesas. Um exemplo desse avanço é o desempenho de Geely e SAIC, que já atingiram 50% de participação de EVs nas vendas totais, alcançando as metas previstas para 2025 um ano antes do prazo.
Avaliação anual
Desde 2023, o ICCT publica uma análise anual sobre a evolução da eletrificação entre as principais montadoras, com base em dados de seis mercados globais: China, Europa, Índia, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. Juntas, essas regiões representam 82% das vendas mundiais de automóveis. Os 21 fabricantes avaliados em 2024 responderam por 90% das vendas nesses mercados.
O estudo considera indicadores como posição de mercado, desempenho tecnológico e estratégia de descarbonização de longo prazo. No total, o ICCT utiliza dez indicadores-chave, com base em informações independentes coletadas até o final de 2024.
Entre as novidades desta edição estão um indicador sobre o uso de aço verde e uma atualização nas métricas de reciclagem e reuso de baterias. O critério de aço verde avalia o esforço das montadoras em reduzir as emissões associadas à produção de aço, principal fonte de CO₂ na fabricação de veículos depois das baterias. A iniciativa pode abrir espaço para siderúrgicas brasileiras ampliarem a oferta de aço de baixo carbono, dizem especialistas.
China amplia vantagem
A nova análise revela o aumento da distância entre as montadoras chinesas e as fabricantes europeias, que enfrentam dificuldades para acompanhar o ritmo da eletrificação. No ranking geral, Tesla e BYD continuam nas duas primeiras posições, repetindo o desempenho de 2023. Ambas permanecem classificadas como “líderes”, mantendo a mesma pontuação do ano anterior.
“Nossa avaliação revelou uma melhora generalizada no desempenho tecnológico dos BEVs em toda a indústria”, afirmou Zifei Yang, líder global de veículos de passageiros do ICCT. “A grande maioria das montadoras apresentou avanços em consumo de energia, velocidade de recarga e autonomia dos modelos vendidos.”
Entre os maiores destaques estão as chinesas Geely e Chery, ambas classificadas como “Transitioners” (em transição), que mostraram as maiores evoluções do ranking. A Geely, em parceria com a SAIC, superou BMW e Mercedes-Benz, que ocupavam a terceira e a quarta posições no ano anterior. A Chery, que em 2023 estava próxima do grupo dos retardatários, subiu para o meio da tabela.
Outras montadoras, como Volkswagen, Stellantis, GM e a chinesa Changan, continuam posicionadas no grupo intermediário.
A Tata Motors, da Índia, também chamou atenção ao se tornar a primeira montadora a migrar do grupo dos “laggards” (retardatários) para os “transitioners”. O avanço veio após o lançamento de novos modelos elétricos e pela ampliação das iniciativas de reciclagem e reuso de baterias, em parceria com sua subsidiária Jaguar Land Rover.
Evolução e desafios da eletrificação
Para Drew Kodjak, presidente e CEO do ICCT, as fabricantes globais precisam se adaptar rapidamente à nova realidade do mercado automotivo. “Com as montadoras chinesas expandindo sua atuação globalmente, os demais fabricantes líderes enfrentam uma pressão urgente para acelerar suas próprias transições ou correm o risco de perder competitividade”, afirmou.
“A rápida evolução do mercado de veículos elétricos na China criou vantagens tecnológicas e de produção que colocam o país à frente. Para a indústria automotiva global, a questão agora não é mais apenas atingir metas futuras — é uma disputa pela competitividade no mercado de hoje.”

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter, redator e editor em veículos de comunicação de grande circulação, como Grupo Folha, Grupo RAC e emissoras de TV e rádio. Acompanha o setor de veículos elétricos e outras energias renováveis para o desenvolvimento sustentável.